terça-feira, 21 de maio de 2013

O contrário do amor



"O contrário do amor não é o ódio, é a indiferença." 

        O ódio é uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.

Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.

Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto. 
Martha Medeiros

sexta-feira, 10 de maio de 2013

.Outro encontro




Naqueles encontros solitários comigo mesma, me pego tão frágil, quebrável. Insensível a Sua companhia. Desesperada por Sua presença. Por Seu calor, por todo Amor. E todas as vezes que me vejo solta, desenvolta. Tão independente, e profundamente carente.  Me pego tão faminta. Tão pobre. Ausente. E novamente carente. 
Minhas manias, meus vícios. Tantos inícios.  Sempre agarrada à Sua piedade... Me apego e desapego. Tanto Te quero, e tão pouco Te procuro.  Tanto o amo, e tão pouco te entendo. Não compreendo Sua dimensão, tão pouco todo este amor. Você é um oceano, e eu um grão perdido na Sua imensidão. Tão perfeito, e tão querido. Sempre tão irresistível. Sou sempre tão óbvia e previsível. Mas com você as coisas se tornam Completas. 
...Pro teu colo eu corro, pros Teus braços eu volto, nas tuas mãos me seguro.