quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Separação e Luto. Pais.




Separados da graça divina, somos forçados a experimentar o pior desamparo. O desamparo do único amor que pode preencher o cerne profundo da carência humana. Por causa da infeliz escolha de Eva em condescender com sua soberba, toda a humanidade geração após geração tem provado o sabor amargo de sua terrível fraqueza.
Dor cruel que dilacera.

Hoje me vejo provando desse cálice doído. Por consequência de sua escolha, sou forçada a sentir as agulhadas dessa maldição. Sei que casais se separam o tempo todo, num mundo de relações cada vez mais descartáveis. Famílias se desfazem, pais matam filhos e filhos aos seus pais. Homens roubam, maquilham, enganam. Tantas são as tragédias, discórdias, violência. Tanta fome, escassez, doenças e mortes. São tantas as pestilências que nos assola entre o inflar e esvazar dos pulmões. Que sufoca ! 

Mas, bem. Pense bem, foram mais de três décadas de casamento! Na metade dele eu assisti a animosidade de uma guerra fria travada por anos. Até cheguei a desejar que esse dia (o dia de hoje) chegasse logo. Na expectativa de acabar com essa tortura psicológica que sempre pesou para os mais fracos. 

Eu, a ponta frágil da família me vi com o ônus de uma tarefa desafiadora. não era responsabilidade minha, e não deveria ser para filho nenhum, ficar incumbido de segurar dois polos sobre pressão. Dois opostos em uma união quebrada vivendo a ilusão de um reconcilio. Nao acho impossível, mas é tao conflituoso, que se torna indissociável toda a dor que isso causa. Segurar nas mãos juvenis um casal separado, que dependem de voce para coexistirem, é indigesto. Desde pequena minha ansiedade frente a isso revirava meu estômago e consumia muita energia. Eu não, embora consciente de toda dor emocional que vivi, queria que o fim se estabelecesse em divorcio. Embora eu desejasse com todas as forças que algo acontecesse logo. (por chegar a duvidar de quanto tempo mais meus braços frágeis suportariam o peso dos conflitos deles). Nao queria ter de enfrentar o luto. A tristeza de ver a família dividida. Esta massivo neste momento. Sempre fomos um  clã  obsessivamente unido. De forma até opressora, pois tenho um pai tradicional, exigente e sistemático. Os excessos de cuidado e zelo, por vezes pareciam me asfixiar. E em outros momentos pareciam faltar cuidado. Ao passo que sinto o ar voltar para os pulmões, e um tipo de liberdade para se recompor. Me sinto de coração pesado. Dilacera a sensação de perda. E agora? Como se estabeleceram as coisas daqui para frente? E nossos almoços aos domingos? Nossas idas ao restaurante no sábado a noite? Nossos natais? Nossas viagens de família? 

Sei que meu queixar dolorido de uma família "formalmente" desfeita, é facilmente compreendido como grão de areia despercebido num vasto mar. Sei que entrever como banalidade qualquer, é a forma mais simplista de negar o sofrer, o ver, e o enlutar. 

Mas, o que consola mesmo, é saber que Ele vê, ouve , sente e faz ! Suas mãos acolhedoras é tudo o que quero. É quem pode remover as ferpas perpassadas por entre os pontos cardeais desse coração sofrido. Não era plano de Deus que as famílias se desfizessem! mácula ou mancha. definitivamente não era o seu plano original.

Meu consolo é a confiança de que A mão onipotente pode me segurar, e com ternura enxugar a tristeza que escorre e goteja sem parar. A turbulência dos meus sentimentos, dos pensamentos que me congestionam e fazem meu mundo girar. Podem encontrar amparo. E vou poder pela manha sorrir com os olhos pela gratidão e certeza de um amor que não se explica... Mas salva.