segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Inércia


               Por tanto tempo ela aprendeu viver e conviver com as doçuras e amarguras de uma vida congelada, exposta a uma vitrine do que ser e fazer. Vivendo dentro de uma novelinha quase perfeita.  Embora periodicamente confrontasse com as paredes desse mundo inerte, alimentava-o com dor inenarravel. Seria perceptível se fitasse os olhos nos dela por alguns minutos, veria da janelinha restrita uma pequenina alma contorcida. De aparência razoável. Paredes gélidas, num passa tempo que sustentavam seus pés fora do chão. Na ilusão de um engodo de quimeras, que ansiava desistir. E se esvair. de ir. até deixar de existir.
            Convencida de que sua “vidinha correta”, com destaque social, prestigio e reconhecimento das pessoas que a cercavam, seriam as doses suficientes para a sobrevida de mais um dia, traziam cor a vida cinza interior de seus conflitos. Um esquema de engodo, que amenizavam as dores que escondia no bolso proximo ao peito, do lado esquerdo. Retro-alimentavam o esquema automático e viciante de viver.  

Chegou a chuva, bateu violentamente em seu coração, derretendo a casa de açúcar. Que anunciaria as memórias póstumas de um ser novo que viria. Mais forte? O mesmo, mas melhor? Ou nova seriam todas as coisas?
 “A garotinha da capa da revista”. A “bonequinha clichê” pertencente a um mundo quase perfeito, dotado de inteligência, postura, graciosidade, beleza, popularidade, e até mesmo um altruísmo bastante ego centrado, não passavam de um mundo bonito que criou para conter suas dores emocionais. Espaço inerte e mal aproveitado, dentro de uma vida elástica. Na verdade essa grande estultícia que começou não se sabe onde, se infiltrou de tal maneira em seus dias, que se tornou um emaranhado sedutor para o seu coração, Uma grande armadilha rumo ao abismo. Veneno lento, de uma vã disparatada vida efêmera e rasa. A corrida incessante atras do vento, a cansou. Pois então, deixou de viver. e Viveu de novo; O novo!